O poder da boa informação

 

Atualmente fala-se muito em informação. Dizem até que informação é poder. Há um apelo para que as pessoas se informem cada vez mais sobre diversos temas. O homem informado é o homem moderno, atual.

O que não se cogita, porém, é o que se faz com a informação obtida. Há pessoas que usam a informação para prejudicar, outras para dominar, outras, ainda, para impor medo, tecer as teias da situação conforme suas conveniências e por aí vai.

Quero, portanto, tocar neste ponto no que se refere a informação: o que fazemos ao receber uma informação? Como a tratamos? Qual o destino que damos a esta informação?

Responder essas questões provavelmente aprofunde um pouco mais o tema informação, pois que da maneira como é tratado fica ainda no terreno do superficial.

Quando vamos, por exemplo, para um tema como o suicídio em que sabemos ser fundamental a informação para que se previna o tal ato, entendemos que é preciso avançar um pouco mais neste debate, pois que não basta apenas trazer a informação no que toca ao suicídio, mas saber como utilizar esta informação, dando-a, sempre, de forma adequada, haja vista que se trata de uma situação que interfere de forma capital na vida de muita gente.

o suicídio, portanto, ficou ao longo do tempo relegado a tabu, o tipo de tema que não pode ser abordado, posto que, ao abordá-lo poder-se-ia promover seu estímulo. Jogado para debaixo do tapete no debate público ficou um mero desconhecido, o que ajudou a estigmatizar tanto o indivíduo que o cometeu quanto sua família.

Eis que, de uns tempos para cá, resolveu-se abrir as comportas e falar sobre o suicídio, pois ficou entendido por estudiosos que a melhor forma de prevenir é com a informação.

Agora, porém, voltamos ao ponto inicial do texto: a informação.

Não é qualquer informação que previne o suicídio, mas a informação bem utilizada, dada de forma adequada e tratada com seriedade. A grande questão não é a informação em si, mas o que se faz com ela. Trago, novamente, as questões acima:

O que fazer com a informação? Como a tratamos? Qual o destino que damos a esta informação?

No que se refere ao suicídio, essas indagações ganham ainda mais importância para podermos compreender que além da informação é preciso sensibilidade, pois estamos lidando com a dor.

De modo que divulgação de cartas, fotos, métodos utilizados para o suicídio são péssimas informações a serem trazidas ao público.

Perceberam como não é apenas trazer a informação, mas a forma como a trazemos?

Devemos, sim, falar de esperança, vida, possibilidades de tratamento, histórias de superação. Devemos contar que é possível, sim, vencer a ideação suicida, há tratamentos para isto, tanto no campo da matéria quanto no campo da alma.

Imagine alguém com ideação suicida vendo uma matéria de jornal, postagem em facebook ou coisas do tipo em que se relata a forma como o indivíduo cometeu o suicídio e se divulga a carta deixada aos familiares.

Agora, porém, imagine alguém com ideação suicida vendo uma matéria de jornal ou postagem no facebook que relata uma história de superação, de alguém que conseguiu vencer esta vontade de interromper a existência.

Perceberam a diferença?

Informação é poder?

Até pode-se dizer que sim, mas para que seja um poder que transforme de maneira positiva a vida de alguém é necessário que se saiba utilizá-lo.

Antes de falar qualquer coisa repare, ainda mais no que concerne ao suicídio, se o que dirás trará dor ou alívio. Ansiedade ou serenidade. Vontade de viver ou deixar de viver.

Pensemos nisto.

 

 

 

No caso da ideação suicida sugerimos a abordagem em 3 frentes



Desta vez, em nosso questionário sobre a ideação suicida, entrevistamos 230 mulheres dos mais diversos estados brasileiros e nas mais diversas faixas etárias. Adiante, em outros textos, traremos mais informações, até porque neste momento não é nosso objetivo esmiuçar esta parte.

Destaco duas das perguntas que fizemos:

1 – Já pensou em suicídio alguma vez em sua vida?

51,8% das mulheres responderam que sim, 48,2% das mulheres responderam que não. Ou seja, mais da metade das mulheres entrevistadas, em algum momento, já pensaram na ideia de interrupção da existência.

Quando vamos para a outra questão, que indaga se já tentaram cometer o ato extremo de tirar a própria vida, encontramos as seguintes porcentagens:

14% já tentaram e 86% não tentaram.

Percebe-se, como já realizado em outros estudos, um grande número de mulheres que cogitam da ideia do suicídio.

Ainda neste questionário, ao levantarmos as razões, obtivemos muitas respostas que falam da tristeza, depressão, falta de perspectiva e esperança no porvir.

Em realidade, ao menos para essas mulheres que responderam as questões, o fato que envolve a depressão é o mais notável.

Os transtornos mentais estão diretamente associados à ideia de suicídio e é por isso que insistimos na abordagem em 3 frentes:

1 – Medicina convencional.

2 – Intervenção terapêutica.

3- Abordagem espiritual.

Nos cursos que venho realizando sobre prevenção e posvenção do suicídio constato que os tratamentos preconizados se apoiam apenas nas duas primeiras etapas: medicina convencional e intervenção terapêutica.

Entendo, claro, as razões pelas quais as instituições que ministram esses cursos ficam apenas nestas duas etapas, contudo, como espiritualista e espírita não posso deixar de anotar no horizonte do tratamento a importância do aspecto que envolve a espiritualidade, sendo, este, muito importante para todo o processo.

Eis porque costumo bater na tecla ser fundamental a quebra do paradigma materialista, posto que, em muitas instâncias, ele, o paradigma materialista, enfoca apenas o “aqui e agora”, sem contemplar o Ser como um todo, sua biografia espiritual, suas vivências e aptidões que, não raro, são oriundas das existências pretéritas.

Ora, se é verdade que os fatores culturais, socioeconômicos e outros dão sua parcela de contribuição na forma em que o indivíduo enxerga a vida e se relaciona com o mundo ao seu redor, introduzindo a cultura espiritualista em sociedade teremos uma abordagem mais completa de todo este quebra cabeça que podemos chamar “ser humano”.

Causa-me e sempre me causou estranheza verificar que alguns religiosos consideram serem os problemas humanos resolvidos apenas com preces, orações, reuniões de desobsessão ou “descarrego” e idas a centro espíritas, igrejas ou instituições afins. Mas também me causa estranheza perceber que há, ainda, pessoas ligadas as ciências convencionais que se negam absolutamente a admitir a contraparte espiritual do indivíduo.

Isto dito, cabe-nos fazer nossa parte, trabalhar para que ambas as ciências, tanto a do corpo, quando a da alma, complementem-se e produzam, juntas, mais qualidade de vida para todos, porquanto, ambas as ciências citadas aqui não se excluem, ao contrário, completam-se. 

Os jovens e as automutilações



A autolesão é um comportamento que, em geral, ocorre com jovens entre 13 e 16 anos. 

Os fatores que levam os jovens à autolesão são os mais variados e, naturalmente, vinculados às dores da alma. 

É inegável: o sofrimento que traz um jovem para lesar seu próprio corpo é deveras vigoroso. Alguns estudos apontam para dois pontos que merecem destaque no tema da automutilação. 

São esses dois fatores de ordem interpessoal e intrapessoal. 

1 – Intrapessoal: Ao se automutilar o jovem tenta, de alguma forma, autopunir-se. Um outro aspecto é, ainda, o alívio da dor emocional, mais ou menos num sistema de compensação, ou de troca de uma dor pela outra na ânsia de algum alívio. 

2 – Interpessoal: A circunstância interpessoal é a de punir alguém, pertencer a determinado grupo, ou, ainda, mandar um aviso de seu sofrimento. 

Não raras vezes em busca de atenção o jovem pode autolesar-se, num brado: 

Estou aqui! Conhecer a gênese dos problemas é muito importante para poder tratá-los convenientemente. Ao entender o drama do jovem que tem o comportamento autolesivo poderão ser elaboradas estratégias para o tratamento eficaz. 

Como a autolesão, segundo alguns, proporciona certo alívio às dores da alma, pode-se trabalhar outras questões para o alívio das dores do indivíduo. 

Prática de esportes, construção de laços de amizade, inserção em grupos com interesses e afinidades parecidos são alguns pontos que podem ajudar o jovem a aliviar esta angústia sem ter de recorrer à autolesão. 

Uma boa sugestão para a sociedade é incentivar o treinamento de pessoas que possam identificar comportamentos suicidas e de autolesão. 

Capacitar indivíduos para que desenvolvam esta habilidade de perceber e abordar pessoas com transtornos mentais, problemas no lar, uso de substâncias tóxicas, ansiedade e outras circunstâncias que podem levar ao comportamento autolesivo ou suicida. 

As igrejas, centros espíritas, escolas e demais instituições podem exercer tarefa das mais importantes neste assunto ao identificar e treinar pessoas para que possam ser gatekeeper, ou seja, anjos de outras vidas, capazes de reconhecer e abordar adequadamente quem passa pelo comportamento autolesivo. 

Treinar alguém para ser um anjo de outra vida é um exercício que requer muitos cuidados, pois palavras ditas de forma equivocada ou expressões inadequadas, ao invés de ajudarem, no caso de comportamento autolesivo, podem atrapalhar muito. 

Sendo os temas autolesão e suicídio tabus, há, claramente, um total desconhecimento de ambos, e eis que o desconhecimento leva, não raro, a abordagens sensacionalistas ou extremamente moralistas e que, por isso, tendem a construir muros e não pontes. 

O ideal é que se construa ponte de confiança com a pessoa que tem comportamento autolesivo. É preciso, em primeiro momento, trabalhar a confiança para que haja, de fato, uma real e produtiva comunicação entre o anjo de outra vida e aquele que está com comportamento autolesivo. 

Jamais julgar, apurar os ouvidos e tentar compreender os fatores principais que levam ao comportamento de autolesão devem ser requisitos básicos para os anjos de outras vidas. As conversas no tocante aos assuntos tratados neste texto, principalmente com crianças e jovens, devem ser diretas e com o objetivo de levá-los a conhecer os próprios sentimentos. 

É sempre saudável criar ambientes em que os jovens, crianças ou quem quer que passe por dificuldades existenciais possam manifestar-se de forma livre e plena, sem receios de intervenções indevidas e inadequadas e puxões de orelha que mais constrangem do que ajudam. 

Onde o centro espírita pode entrar nesta história? Sendo o centro espírita uma escola de Espiritismo, que ensina, preliminarmente, ser o Espírito imortal, sua função no que se refere à prevenção desses dois comportamentos, tanto o autolesivo quanto o suicida, é de vital importância. 

Ao privilegiar o ensino de que a alma sobrevive à morte do corpo físico e de que estamos neste mundo para o progresso, o Espiritismo, se não elimina, ao menos abre um campo de maior perspectiva para quem está passando pelos problemas que já abordamos no texto. 

Via de regra as angústias e dificuldades de quem tem o comportamento de autolesão e suicida fazem com que não se enxergue a chamada “Luz no fim do túnel”. 

É como se a vida toda se resumisse naquele problema e, numa tentativa de livrar-se do percalço, ou, ainda, de aliviar a tensão emocional, é que se recorre ao comportamento de autolesão ou suicídio. 

Enfim, se pudéssemos de forma resumida falar algo, este tipo de comportamento é uma fuga da dor, por mais paradoxal que possa parecer, a ideia é libertar-se do sofrimento que abala o espírito. 

Porém, como já dito acima, o centro espírita, para bem atender este público, necessitará capacitar aqueles que se disponibilizarem a trabalhar neste campo, posto que a abordagem adequada é tão importante quanto o conhecimento doutrinário. 

Diante das dores do espírito imortal que, implacáveis, avolumam-se, cabe ao colaborador espírita, portador de lições tão preciosas, capacitar-se com os conhecimentos das ciências do mundo para que, em posse de ambos os saberes, material e espiritual, possa aliviar, tanto quando lhe seja possível, as angústias e dificuldades de quem vive na Terra. 

Eis a sugestão para as casas espíritas: capacitar seus trabalhadores no que se refere a este tipo de problema.

Suicídio na terceira idade

 

Estudos apontam que, todos os anos, no mundo todo, cerca de 800 mil pessoas cometem o ato extremo de tirar a vida. Vale lembrar que esses dados são oficiais, o que significa dizer que os números são mais altos. Um outro motivo para a subnotificação dos casos é que dos pouco mais de 180 países membros da OMS (Organização Mundial da Saúde) nem a metade deles têm um cadastro de registo confiável no que tange ao suicídio.

No Brasil a taxa geral de suicídio para cada 100 mil habitantes está em torno de 5,6 pessoas. Quando, porém, investigamos a questão do suicídio dos idosos temos um aumento significativo nesta taxa que salta para 8,9 para cada 100 mil habitantes.

Depois dos 60 anos de existência as pessoas começam a se aposentar, deixam, portanto, a vida laboral que, de certo modo, trazia preenchimento em seus dias e sensação de estar sendo útil. As doenças crônicas, muitas provenientes do próprio desgaste natural da máquina física surgem, o que deixa o idoso com dores e proporciona a perda na qualidade de vida. Outros fatores: Impotência sexual é um deles. Outro tema que podemos elencar aqui é o da solidão, posto que, muitas vezes, não há interação entre o idoso e as outras gerações, o que o leva a sentir uma sensação de isolamento.

Há, ainda, o receio de ser desprezado pela família. Todos os pontos citados acima acabam por contribuir para que os idosos sintam-se deslocados da época atual, tendo, com isso, sofrimentos psíquicos  que podem levar à ideação suicida.

Quero, aqui, destacar a importância da família para a colaboração na qualidade de vida do idoso. Algo interessante a considerar são as conversas e o diálogo que os familiares podem ter com o idoso, de modo a construir pontes para que esta tão importante interação se estabeleça. Claro que não se quer colocar a família como culpada por este ou aquele caso de suicídio, até porque, nestes casos, os familiares sofrem além da partida do afeto as questões que envolvem a culpa que os acomete por não terem feito observações sobre os sinais da ideação suicida enviados pelo idoso.

Todavia, o intuito é mostrar que o diálogo e o estreitamento dos laços familiares podem trazer belas experiências para todos os membros da família, inclusive no que concerne à troca de experiências entre as diversas gerações.

Ficam alguns pontos relacionados aos comportamentos que podem indicar ideação suicida por parte do idoso: Resolução rápida de problemas pendentes. Isolamento. Frases relacionadas à morte de uma maneira mais sofrida. Abuso de substâncias alcoólicas.

Todos esses pontos acima citados, quando percebermos, vale uma conversa com o idoso, perguntando, de forma clara, porém, sensível, sobre as suas intenções. Outro aspecto que podemos fazer para auxiliar o idoso é colocar-nos à disposição para ouvi-lo, mas ouvi-lo realmente, sem julgamentos e explanações morais que irão causar mais afastamento do que aproximação.

Vamos falar de posvenção?

 

É chamado de posvenção os cuidados e atenções dedicados aos familiares e amigos de alguém que interrompeu a existência ao cometer o suicídio.

O suicídio é um evento traumático e que atinge um bom número de pessoas que estão no entorno de quem cometeu o ato.

É algo que marca familiares e amigos pela vida toda. Na questão que envolve a morte, o que a torna mais ou menos dolorosa é o seu contexto. Uma coisa é a partida de um ente querido por doença de longo curso. Outra coisa é a morte por suicídio.

Portanto, quando se fala em posvenção está, também, tratando do tema prevenção, pois cuidar dos enlutados, dedicar-lhes atenção, é prevenir outros suicídios e diminuir a dor da família e amigos abalados pelo contexto da morte do familiar.

Por isso, diante do preâmbulo e de como a posvenção é uma prática significativa, escrevo aos amigos espíritas para compartilhar ideias que surgiram após a pesquisa de campo que venho realizando há alguns anos sobre a referida temática.

Quero aqui falar sobre os cuidados ao abordar os familiares e amigos enlutados e que, por questões naturais, haja vista que o Espiritismo aborda muito bem os temas referentes a vida e a morte, procuram o centro espírita para receber o tão esperado consolo e paz ao coração.

Compreendo a boa vontade de alguns amigos espíritas que, ao se depararem com familiares enlutados pelo suicídio de algum afeto, indicam a literatura espírita como bálsamo à alma.

De fato, por ser consolador, o Espiritismo tem em sua literatura bons livros para serem indicados no trabalho de posvenção.

Contudo, alguns livros espíritas podem causar mais mal do que bem ao familiar enlutado, e é neste ponto que o espírita deve prestar bem atenção.

Livros que trazem alta carga de dramaticidade, com relatos dolorosos dos Espíritos que cometeram o ato do suicídio devem ser evitados, assim como deve ser evitada aquela visão muito próxima do inferno católico, vale dos suicidas e tantas outras coisas que podem causar dor ao familiar enlutado.

Antes de sugerir alguma leitura ou de proferir frases de efeito, recorde-se que você está atendendo alguém que passa por uma dor muito grande que é a do luto pelo suicídio.

Lembre-se, portanto, que o objetivo é acalmar o familiar ou amigo e não assustar.

No trabalho de posvenção é importante destacar o Espiritismo que valoriza a vida e a esperança, a mostrar que não há penas eternas e nenhum Espírito está perdido, sem o amor de Deus.

Este perfil de consolo e esperança necessita ser trabalhado para que as famílias enlutadas vejam que apenas o corpo morreu, mas o Espírito é imortal, o que, certamente, ao menos diminuirá a dor pela forma da partida e a natural saudade advinda da separação, além de, é claro, colaborar para que outros suicídios não venham a ocorrer no seio da família enlutada.

Homoafetividade, família e instituições religiosas

 

A idade que compreende entre 15 e 30 anos tem sido uma das mais problemáticas quando o assunto é suicídio, que já se configura na segunda maior causa de mortes de jovens desta idade.

Ao aplicar a pesquisa sobre ideação suicida no grupo dos homoafetivos fiz questão, portanto, de separar uma análise das pessoas que estão entre os 16 e 30 anos, e que depois, em outro momento, tratarei de aprofundar as ponderações acerca do tema deste sub grupo.

No total 112 pessoas foram entrevistadas com o objetivo de verificar se a orientação homoafetiva, de alguma forma, tem implicações na ideação suicida.

Deste total de 112 pessoas 69% dizem que já pensaram em interromper a existência.

Vamos, agora, para os homoafetivos que estão no rol que compreende 16 a 30 anos.

Constatou-se que 57 entrevistados estão entre os 16 e 30 anos, o que mostra ser 51% do universo de participantes.

Deste cenário, ou seja, apenas aqueles que estão entre 16 e 30 anos, foi verificado que 75% já pensaram em suicídio.

O que nos diz esta informação?

Corrobora justamente com os números já apontados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e Ministério da Saúde do Brasil, que a idade entre 16 e 30 anos é, de fato, a que requer mais cuidado quando se fala em ideação suicida.

Por que pessoas com esta idade trazem esta propensão às ideias suicidas? Como bem sabemos, sendo o suicídio um evento que tem muito mais do que uma simples causa, cabe-nos, de alguma forma, tentar compreender quais seriam as razões principais, e, ainda, o start, aquela situação em que o indivíduo diz: Já não dá mais, pararei por aqui.

Esta compreensão das causas e do gatilho, aliás, como se pode supor, torna-se fundamental para um tratamento personalizado do indivíduo, pois as dores são únicas e nada lineares em se tratando de Espíritos imortais, portanto, com biografias completamente diferentes uns dos outros.

Numa simples ilustração, está dito acima que um evento dramático para uma pessoa pode não o ser para outra, eis que aí, bem aí reside a chave para não desprezarmos quaisquer tipos de dores que se apresentam.

No caso dos homoafetivos, a pesquisa que aplicamos sugere que este grupo pode, sim, ser considerado de risco e que, portanto, necessita de atenções mais acuradas.

Então, colam-se aos tantos outros fatores de risco para o suicídio as questões que envolvem a experiência da homoafetividade.

E neste tocante destacam-se dois elementos apontados pelos participantes da pesquisa:

1 - Os dilemas íntimos do indivíduo que tem orientação homoafetiva, as dificuldades em aceitarem-se e, ainda, o receio da rejeição e da violência física e psicológica que enfrentam.

2 - Quando perguntados se sentiram discriminação por parte de familiares, dos 112 entrevistados, 79 % responderam que já se sentiram vítimas da discriminação por parte da família.

E, na pergunta seguinte, quando indagados se consideram que a maior carga de discriminação vem por parte da família, instituições religiosas, colegas de trabalho ou amigos, assim se manifestaram:

47% família

44% instituições religiosas

8% colegas de trabalho

1% amigos

 

Portanto, constatou-se, ao menos neste trabalho, que família e instituições religiosas são consideradas as instituições que, ao invés de serem fatores de proteção acabam, infelizmente, sendo fatores de risco aos homoafetivos no que se refere à ideação suicida.

Diante do quadro exposto, cabe trazer esta informação para a família e aos coordenadores das instituições religiosas para que, de fato, abram diálogo com aqueles que estão na experiência da homoafetividade, a fim de que estes últimos possam receber o acalento, acolhida e apoio de duas das mais longevas tradições humanas: família e religião.

Ao receberem um acolhimento necessário, e, registre-se, justo, sentir-se-ão mais queridos e aceitos por estas duas instituições, o que, certamente, trará algo a menos com o que se preocupar, e isto é fator de proteção, e que, por consequência, poderá diminuir a pressão diante das angústias e dificuldades naturais que se apresentam num mundo de prova e expiação como a Terra.

Portanto, trata-se de medida de prevenção ao suicídio humanizar as instituições religiosas, ou melhor, informar aos coordenadores destas instituições para que humanizem suas abordagens, posto que todos, absolutamente todos somos Espíritos imortais antes de sermos caracterizados pelo gênero que temporariamente ocupamos num corpo perecível.

Ao partir da premissa de que os Espíritos não têm sexo, de que as verdadeiras afinidades são as da alma, chega-se a conclusão de que alimentar preconceito é abrir mão do raciocínio lógico, posto que a conclusão, ao aceitar a premissa acima, é a de que o respeito deve ser a tônica das relações humanas.

No que tange à família, destaca-se a importância de seguir os conselhos dados pelos Espíritos Superiores, de que se deve estreitar os laços entre seus participantes.

Mas o que isto significa em termos práticos?

Ora, estabelecer relações de transparência, no intuito de que os membros desta família possam confiar uns nos outros sem terem que ter receio da rejeição ou da reprovação por parte de outros componentes da família. Isto é, exatamente, estreitar os laços, aproximar as pessoas umas das outras, transformar o ambiente familiar em um cenário de paz e refrigério, posto que, ao estreitar os laços pode-se ser quem é, sem nenhum tipo de receio de retaliação.

São dois pontos bem interessantes que se deve trabalhar no que concerne à prevenção ao suicídio: família e instituições religiosas, dois importantes fatores de proteção ao indivíduo. Nesta dupla poderá estar muito das alegrias e tristezas vivenciadas pelos Espíritos que estão encarnados neste planeta.

Os números estão aí, para bem os utilizarmos em benefício da felicidade das pessoas.

 

Espiritualistas que pensam como materialistas.

 

O materialismo é uma realidade do mundo onde vivemos, e o  problema maior nem é o materialismo em si, mas quando ele existe no seio dos espiritualistas, que, de maneira paradoxal, pensam e agem como materialistas.

Darei um exemplo bem claro e fácil de compreender como o materialismo faz parte da cultura de uma sociedade que se diz espiritualista.

Dia desses assisti uma entrevista da modelo Gisele Bündchen em que ela afirmava ter passado pela síndrome do pânico, algo que pode acontecer com qualquer um, independentemente da condição socioeconômica.

O que me chamou mais atenção foram os comentários das pessoas sobre o fato da modelo estar com síndrome do pânico.

Diziam o seguinte:

Como pode uma mulher linda e rica, que tem tudo, estar com síndrome do pânico?

Vamos analisar o que está na essência de uma pergunta deste tipo e indagar:

O que é ter tudo?

Em suma, a pergunta traz, na essência, o materialismo em nível altíssimo, pois mostra o conceito de que ter tudo resume -se a corpo bonito e conta bancária recheada.

Portanto, a modelo tem dinheiro e é bela, mas isso é apenas a parte material, e não podemos limitar a existência humana à moeda ou ao corpo, pois  nós somos muito mais do que matéria.

Nós somos muito mais do que um corpo bonito. Somos muito mais do que a conta bancária, nós somos espíritos imortais. Nós temos tantas outras situações e tantos outros contextos para vivenciar que se torna incompreensível quando umj espiritualista fala que um indivíduo tem tudo porque é  bonito ou porque tem dinheiro. Não, ele não tem udo.

Claro que como seres encarnados, vivendo aqui na Terra, é importante ter a grana pra pagar o boleto que vence na segunda-feira, mas a vida não se resume a isso.

Este, portanto, é o cerne da questão, o espiritualista que pensa e age como um materialista. É muito importante quebrar essa força materialista. É preciso, de fato, introduzir a cultura da imortalidade da alma na sociedade.

E o que eu quero dizer com isto?

Quero dizer que nós precisamos começar a pensar como espíritos imortais que somos.

A vida é muito mais do que beleza do corpo e conta recheada.

Então, quando a cultura da imortalidade da alma estiver entranhada em nossa sociedade vamos olhar para as pessoas e não enxergar apenas um corpo bonito ou uma conta bancária, e isto vai transformar as relações humanas para melhor.

Portanto, antes de pensar em converter um materialista, ou, ainda, falar que a ciência pauta-se em bases puramente materialistas, cabe-nos, como espiritualistas, viver e pensar além dos rumos materialistas que segue a sociedade repleta de teóricos espiritualistas, mas que, na prática, seguem a cartilha do materialismo.

 

O apressado posta cru

A notícia veiculada sobre a morte de Gugu Liberato, sem que, contudo, a morte tenha ocorrido, deixa explícito uma das muitas curiosidades de nosso tempo: a pressa. Temos pressa para tudo e esperar tornou-se um sacrifício, embora junto com a morte seja uma das poucas certezas que temos.
Dia desses fui num restaurante almoçar e, pra variar, estava com pressa. Perguntei em quanto tempo o "prato" ficaria pronto. O atendente, em descompasso com este mundo tão apressado, disse tranquilo: "É rapidinho, mais ou menos uma hora".
Falei pra ele: esquece, tenho pressa, vou é comer um pão com mortadela bem ligeiro. Ele apenas sorriu, sem nenhuma pressa. Eu saí pensando: que mundo esse cara vive?! Pois é... Queremos ficar ricos depressa, formar-se em complexas áreas do conhecimento humano com toda rapidez do mundo em cursos de uma semana... Parece que contraímos o vírus da pressa.
Tive um chefe que costumava dizer: "Este trabalho não é pra hoje, mas pra ontem". Até os chefes, essas figuras acima do bem e do mal, contraíram o vírus da pressa. No que concerne às notícias, então, a pressa está ainda mais na moda. Queremos espalhar toda e qualquer notícia sem checagem, sem averiguação e sem qualquer compromisso com a verdade, pois o intuito principal, que deveria ser secundário, é postar.
Postar rapidinho para obter likes, para lacrar ou angariar seguidores e, nesses pontos, portanto, a pressa é importante porque ninguém gosta de notícia requentada. Mas com a pressa vem a perda da credibilidade, ao menos para quem preza por informações corretas e precisas. Ademais, a pressa traz de reboque o abalo da credibilidade de quem não sabe esperar.
Já dizia minha saudosa mãe: "O apressado come cru". Nos dias de hoje podemos dizer: O apressado posta cru.

Prevenção ao suicídio, por que apenas em setembro?


O tema suicídio sempre me chamou atenção, tanto que, no ano de 2011, junto com dois amigos escrevi a obra “Evite a rota do suicídio”.
Desde este tempo, portanto, que tenho me dedicado ao estudo da referida temática, que tem seu mês de prevenção celebrado em setembro, mas que, registre-se, esta prevenção deve ser estendida para todos os meses ano, num constante e amplo trabalho de fazer com que se desperte para a real finalidade da existência humana na Terra.

Por que é importante estender para todos os meses a prevenção ao suicídio?

Porque o número de pessoas que exterminam a própria vida todos os dias em nosso planeta é imensurável.

Sim, imensurável porque não se tem todos os registros de pessoas que pedem demissão da vida, porquanto, ainda tabu, os suicídios não são amplamente contabilizados. Há, ainda, a questão que envolve o preconceito diante do tema o que faz com que não seja notificado o suicídio.

E para ajudar mídia e sociedade tratam de atirar o tema para debaixo do tapete não o abordando com a seriedade devida, pois entendem que falar sobre o suicídio aumentará o número de casos.

Entretanto, consideremos que há formas e formas de abordar o tema.
É a informação sobre alguma coisa que abrirá os olhos das pessoas para saberem onde estão pisando. 

Portanto, desnecessário falar sobre suicídio mostrando como as pessoas se autoexterminaram, fazendo sensacionalismo, mas fundamental falar sobre como superar os dilemas existenciais, uma das causas do suicídio.

É bom entendermos que a vida na Terra tem seus altos e baixos, dias que são noites chuvosas e densas. Nem só de alegrias se faz nossa existência e saber disso já é um bom caminho percorrido para não se desesperar diante dos problemas.

Diz-nos Allan Kardec que os maus dias serão inevitáveis!
Enfermidade, grana curta, o amor que nos abandonou, o familiar que partiu, a maré que não está lá grande coisa... Todas essas situações fazem parte de nosso rol de provação ou expiação neste mundo e que devem ser enfrentadas para que possamos progredir. A fuga não gera o progresso, mas o enfrentamento sim, este traz crescimento.
No questionário que desenvolvemos para saber quais são os problemas que mais apoquentam o ser humano fizemos a seguinte indagação aos entrevistados:

Qual é o problema que mais apoquenta e gera intranquilidade à alma humana?

A esmagadora maioria das respostas aponta que o problema mais difícil de lidar é o familiar. Problemas financeiros aparecem atrás do familiar e relacionamento amoroso.
Se uma vida sem problemas é impossível, que ao menos possamos estreitar os laços de família e “ouvir uns aos outros”, deixando a existência um pouco mais leve e saborosa de se levar.

O que as pessoas que apresentam ideação suicida gostam e não gostam de ouvir quando a ideia se faz mais forte?

O professor Neury José Botega, que pesquisa sobre o tema suicídio, informa que, em geral, aqueles que têm a ideação suicida não apreciam conselhos no sentido "lição de moral", coisas do tipo:

Não faça isso! Você ainda é jovem, deve viver bastante! Cadê o seu Deus?

As respostas que recebemos dos questionários vão ao encontro do que diz o professor Neury, ou seja, mais atrapalha do que ajuda ideias de cunho moralista.
O bom e velho ouvido, em muitos casos, é elemento mais eficaz na prevenção ao suicídio do que a língua.

E com relação ao preconceito? O preconceito pode levar alguém a cogitar o suicídio?
Uma das perguntas do já citado questionário é feita para saber se o indivíduo, por conta da cor de sua pele, sente-se discriminado.

Porém, pelas respostas, percebo que a questão do preconceito vai além da cor de pele. Em geral, os entrevistados aproveitam a pergunta para informarem que sentem preconceito por estarem acima do peso, pobres ou homossexuais.

Em virtude disso sou obrigado, novamente - já o fiz em livros - a defender o comedimento na forma em que lidamos com uma espécie de humor, ou melhor, as piadas. Não pode ser humor aquilo que alguns dão risada à custa da característica de outros. Isso não é humor, mas puro sadismo. E não falo aqui de "orelha", na base do achismo, mas com base em relatos que falam das cicatrizes deixadas por essas piadas. É preciso ter muito, mas muito cuidado na hora de produzir conteúdo de humor.

A divisão em dois grupos de quem pensa em suicídio
Ao longo do tempo que venho estudando sobre o suicídio percebi que podemos, sem deixar no plano absoluto, mas apenas para melhor organização, dividir em dois grupos aqueles que pensam em suicídio.

Grupo 1 - os que pensam por ocasião, em virtude de alguma contrariedade, situação difícil, enfim, algo que lhe escape o controle e que pareça sem solução. Neste grupo o tratamento é, digamos, menos complicado.

Grupo 2 - os que trazem a prova de vencer a tendência suicida. Nestes casos a coisa é um pouco mais complexa, porquanto, não raro há junto o componente da obsessão em forma mais aguda. A ideia suicida parece que está cristalizada de tal forma que dela não se desvencilha facilmente. Neste grupo é fundamental que se realize a desobsessão e o acompanhamento de perto do caso. Atrevo até uma sugestão para situações assim: que o centro espírita ou qualquer local que trate o caso esteja sempre perto da pessoa, acompanhando-a.

Obs: nos casos de ideia suicida, em qualquer dos grupos acima citados, jamais se pode abrir mão do acompanhamento médico e psicológico convencional, sendo o acompanhamento espiritual uma forma de tratamento paralelo às convencionais.

O conhecimento espírita na prevenção ao suicídio.
Os profissionais de saúde informam que em 90% dos casos de ideação suicida há transtorno mental, portanto, há tratamento.
Então, o recado que deixamos aqui, neste espaço, é o de (caso tenhamos acalentado ideias de suicídio) buscarmos os tratamentos disponíveis, tanto no campo material quanto no campo espiritual, conforme escrevemos acima.

O conhecimento sobre a imortalidade da alma trazido pelo Espiritismo é,  indubitavelmente, um fator que previne e até mesmo elimina a ideia do suicídio em algumas situações, provavelmente naqueles que estejam no grupo 1, acima citado.

Porém, há coisas que ombreiam com este conhecimento da imortalidade da alma em termos de eficácia da prevenção ao suicídio. O acolhimento ao ser que experimenta dor, por exemplo, é uma ferramenta tão eficaz quanto o conhecimento da imortalidade da alma.

A ideia é mais ou menos assim: mais acolhimento equivale a menos julgamento. Coração aquecido pelo carinho e genuína compreensão pode desistir de coisas que até "Deus" duvida, como diria Ivan Lins.

E que não fiquemos apenas em setembro no que se refere a prevenir o suicídio.

Até a próxima.



“Aifones”

Entrei na clínica médica para consulta e ali havia umas 12 pessoas no aguardo.

Todas com "aifone" e olhos vidrados no aparelho.

Dei “bom dia”, meio tímido e, de volta nenhuma palavra, apenas celulares apontados em minha direção com os "bons dias" em suas telas. Sentei e tentei puxar conversa com um senhor à minha esquerda, ele não respondeu com palavras, mas com uma digitação em seu "aifone":

Quer conversar? Se quiser me passa o número do seu zap.

Achei melhor obedecer e digitei no meu "aifone" o número do meu zap. Ele adicionou e começamos a conversar... ops... a digitar.

 Eu ali, de papo com o senhor, que descobri chamar-se Caio, quando senti uma pancada em meu pé, ao olhar vi que a moça sentada à minha direita, ao se levantar olhando para tela do "aifone" tropeçou em meu pé.

Ela olhou bem pra minha cara gravou um áudio e me cutucou, passando seu "aifone" para que eu pudesse escutar. O áudio, de dois segundos, dizia:

Desculpa!

Eu, inocente, falei pra ela: "Magina... não tem problema"...

Quando todos ouviram minha voz, olharam-me com reprovação e escreveram em seus respectivos "aifones" mostrando-me a tela: - Silêncio!

Entendi o recado e digitei: Ok!

E assim passou o tempo até chegar o momento do médico me atender. A recepcionista, como já tinha meu número de zap, enviou uma mensagem pedindo para eu entrar. Entrei na sala do médico. 

Cumprimentei-o com um "bom dia".

O doutor digitou em seu "aifone" um "bom dia" como resposta.
Disse pra ele: Tudo bem, doutor, eu já entendi.

Ele digitou e me mostrou o que havia escrito em seu “aifone”:
Entendeu nada, se tivesse entendido teria digitado ou gravado áudio. Aliás, que mundo você vive? 

Fiquei ali, meio sem graça depois do sabão do médico, então, digitei:

Vamos à consulta? Foi aí que o médico começou o exame gravando um áudio em seu "aifone". 

Gravava o áudio e me enviava. Eu ouvia e respondia pra ele com outro áudio.

E assim fizemos por 20 minutos até ele encerrar a consulta e digitar que mandaria a receita dos remédios pelo zap.

Agradeci, em áudio, e sai do consultório satisfeito, pensando:

Bons tempos em que vivemos, temos hoje um intermediário para os papos, os "aifones" sempre prestativos e atenciosos a conectar-nos ao mundo e as pessoas.

Sinais da evolução!

Será?